As leituras que a liturgia do vigésimo nono domingo comum nos propõe recordam-nos a importância de manter com Deus uma relação estreita, uma comunhão íntima, um diálogo insistente, uma escuta atenta… O diálogo contínuo com Deus trará à nossa vida uma nova luz: permitir-nos-á compreender os silêncios de Deus, respeitar os tempos de Deus, entender o projeto de Deus, confiar sempre no amor de Deus.
A primeira leitura traz-nos um episódio da caminhada do povo de Deus pelo deserto: durante um confronto de Israel com os amalecitas, Moisés ficou em oração, no cimo de um monte, pedindo a Deus que salvasse o seu povo. Ao contar esta história, a catequese de Israel pretende sublinhar o poder da oração. O crente só conseguirá enfrentar as duras batalhas que a vida lhe impõe se puder contar com a ajuda e a força de Deus; e essa ajuda e essa força brotam de um diálogo contínuo, nunca interrompido e nunca acabado, com esse Deus salvador e libertador que acompanha o seu povo em cada passo do caminho.
No Evangelho Jesus conta aos discípulos uma parábola sobre “a necessidade de orar sempre sem desanimar”. Segundo Jesus, Deus escuta sempre a oração dos seus filhos e, no tempo oportuno, há de dar resposta a tudo aquilo que eles lhe dizem. Entretanto, independentemente da resposta de Deus, a oração faz bem: aproxima os crentes de Deus, fá-los entender o projeto de Deus, leva-os a confiar incondicionalmente em Deus, na sua misericórdia, na sua bondade, no seu amor.
Na segunda leitura um mestre cristão do final do primeiro século convida os crentes a terem sempre em conta, na construção do edifício da sua fé, a Sagrada Escritura. Ela é um lugar privilegiado de encontro entre Deus e o homem. Escutar a Escritura é escutar o Deus que fala e que mostra o caminho que conduz à vida verdadeira. A oração também passa pela escuta desse Deus que nos fala através da Sua Palavra escrita.
As crises e dificuldades que enfrentamos ao longo da viagem da vida deixam, frequentemente, feridas que, com as nossas frágeis forças, não conseguimos curar. Incapazes de superar a nossa debilidade, afundamo-nos no desespero. Quem poderá devolver-nos a esperança? As leituras que a liturgia deste domingo nos propõe dizem-nos: “Deus não abandona os seus queridos filhos que a vida magoou e deixou para trás. Ele está sempre disponível para nos purificar de todas as lepras que nos sujam e para nos oferecer a sua salvação”.
Na primeira leitura Deus, através da ação do profeta Eliseu, oferece a sua salvação a um leproso estrangeiro, o general sírio Naamã. Curado da sua doença física e da sua cegueira espiritual, Naamã reconhece o poder de Deus e proclama a sua fé. Só Javé é o Senhor da vida, só Ele pode salvar. A misericórdia infinita de Deus derrama-se sobre todos os que n’Ele confiam, independentemente da sua origem étnica, da sua história de vida, da sua condição social ou religiosa.
No Evangelho, alguns leprosos pedem a Jesus que se compadeça deles. Foram colocados à margem da vida e foi-lhes roubada toda a esperança. Jesus, profundamente compadecido, dispõe-se a oferecer-lhes a salvação de Deus. Mostra-lhes o caminho que eles devem percorrer para chegarem à vida nova. Estranhamente, só um deles reconheceu os dons de Deus e se mostrou grato pela salvação que lhe foi oferecida. Era um samaritano, um “herege”. Por vezes são os “improváveis”, aqueles pelos quais ninguém dá nada, que mais facilmente se deixam “tocar” pela bondade de Deus.
Na segunda leitura, um catequista cristão do final do séc. I convida os crentes a terem sempre diante dos olhos o exemplo de Cristo. Ele, embora tenha passado pelo caminho da cruz, chegou à ressurreição. O cristão, na esteira de Cristo, não deve ter medo de enfrentar as dificuldades e as perseguições: é através desse caminho que chegará à salvação, à vida definitiva.